o drama do apagão na Ilha do Governador

Velas espalhadas pela casa, dias sem banho e com calor. Essa é a realidade de Thaís Magalhães, de 41 anos, casada com Marcos Magalhães, de 47, mãe de três meninos: Mateus, de 4 anos; Marcelo, de 9; e Marcos, de 17, que tem neuropatia. O casal passa, desde a última quinta-feira, dificuldades para manter a rotina dentro de casa, no Jardim Carioca, devido à falta de luz que atinge a Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio.

Diante dos problemas, a professora conta que o filho Marcos tem sofrido com várias crises. Segundo Thaís, o jovem precisa ficar entretido com seus programas de televisão favoritos para não convulsionar. A falta de energia também afeta o horário de banho dele.

— O Marquinhos é neuropata e precisa estar entretido sempre. Fora isso, precisamos fazer a esterilização do material para ele se alimentar e temos um horário específico em que ele toma banho. Quando ele não segue a rotina, tem convulsões de difícil controle. Ele ficou socando a parede e está com a mão toda machucada. Eu confesso que ele está desde quinta-feira sem banho porque estamos com esse problema de faltar luz durante a tarde, que é quando ele está acostumado. Ele não se locomove, então não tem como levar para passear no shopping, por exemplo — diz Thaís.

Ainda de acordo com a bióloga, na madrugada desta terça-feira houve três picos de energia. Thaís relata que desde janeiro deste ano o bairro vem sofrendo com problemas de fornecimento:

— Eu sou insulana há 21 anos. De janeiro para cá começamos a ter essa crise energética. Janeiro estava um calor insuportável e chegamos a ficar 24 horas sem luz. Vivemos com vela e fósforo pela casa porque sabemos que a qualquer hora podemos ficar na escuridão.

Uma equipe da Light foi ao local no fim da tarde desta terça para verificar a rede de distribuição e estudar possíveis melhorias.

Apesar do serviço não estar funcionando, a professora afirma que a conta já chegou na sua residência. Thaís explica que procurou a Light no início do ano e conseguiu um gerador de energia, porém a empresa recolheu o aparelho após alguns meses.

— Nós temos placa solar, então temos crédito na Light. Acontece que o serviço não está sendo prestado e eu mesma não consigo usufruir da energia solar. Cheguei a ir numa unidade da Light em janeiro, em Duque de Caxias. Me trataram muito mal e até questionaram o laudo do meu filho. No fim, eles forneceram o gerador, só que retiraram depois de quatro meses alegando que a luz estava estável. Nós entramos na Justiça, porém toda vez que acionamos temos que pagar o valor de R$ 2 mil porque não temos gratuidade. São muitos gastos, principalmente porque ainda temos que pagar fraldas, remédios, terapia, plano de saúde, entre outros serviços para o Marquinhos — destaca Thaís.

Para não perder mercadoria, açougue em Tauá, na Ilha do Governador, comprou sacos de gelo para manter produtos refrigerados — Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo
Para não perder mercadoria, açougue em Tauá, na Ilha do Governador, comprou sacos de gelo para manter produtos refrigerados — Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo

Assim como a professora, o empresário Daniel Frias, de 46 anos, sócio de uma padaria no Jardim Guanabara, sofre com os danos causados pela falta de luz no bairro. Ao todo, Daniel aponta que mais de 700 pães foram jogados no lixo.

— Vivemos um apagão de 48h na sexta-feira e perdemos muitas coisas, incluindo sorvetes, frangos, temperos e recheios. Nós ainda vamos calcular o prejuízo. Estamos precificando tudo, fora que ainda temos a questão do faturamento que não tivemos nesse período. Vamos resolver tudo com o seguro e pretendemos recorrer a Light — desabafa.

O empresário reclama também da falta de comunicação da Light em relação aos reparos que estão sendo feitos e os horários que a população será afetada:

— Nós ficamos sem saber o que fazer. Temos uma demanda grande na Ilha do Governador, nos programamos com todos os produtos e sempre somos pegos de surpresa. Eles nem nos informam com antecedência sobre os reparos que serão feitos e se o fornecimento de energia será prejudicado.

Dona de um açougue em Tauá, Isabela da Silva Cunha, de 40 anos, teve um prejuízo de cerca de R$ 5 mil por ter fechado o estabelecimento durante um dia. Para amenizar os impactos na loja, a proprietária comprou sacos de gelo para as carnes não estragarem.

— Nós ficamos fechados durante toda a sexta-feira. Felizmente não tivemos que jogar comida fora, mas fomos impactados por não termos faturado durante um dia inteiro. Só fomos abrir o açougue novamente na manhã de sábado. Estamos pensando em comprar um gerador para não termos mais que ficar preocupado, mas é um gasto bem alto — pontua Isabela.

Equipes da Light trabalham na Ilha do Governador, que sofre com desabastecimento de energia há dias — Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo
Equipes da Light trabalham na Ilha do Governador, que sofre com desabastecimento de energia há dias — Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo

O posicionamento da Light

Em nota, a Light informou que as interrupções de energia são causadas por um defeito na rede subterrânea, ocorrido na última quinta-feira. A empresa afirmou que esquipes atuam ininterruptamente e que 80 geradores foram deslocados para atender os clientes. Segundo a nota da empresa, um novo cabo foi comprado na última sexta-feira para reparar a linha antiga, enquanto a nova está em fase de construção. Leia a íntegra do comunicado:

“A Light informa que desde 2023 vem concentrando esforços para entregar às ilhas do Governador e Paquetá o maior investimento em modernização de rede de energia elétrica das últimas décadas. Com aporte de mais de R$ 300 milhões, conforme previsto em seu plano de investimentos para 2024, a concessionária segue trabalhando com mais de 200 profissionais de várias áreas e equipamentos de última geração para a renovação completa da rede e a ampliação da capacidade de distribuição de energia da região.

Em novembro deste ano, quando a maior parte dos serviços estiver concluída, a região terá uma nova linha de transmissão para o fornecimento de energia, com qualidade e capacidade comparáveis às melhores do país. As obras estão previstas para serem totalmente finalizadas até dezembro de 2025. Em paralelo a essa grande obra de modernização, a Light também está trabalhando no reparo da linha antiga, que deve ser finalizado na primeira semana de agosto.

Quanto às interrupções causadas por um defeito na rede subterrânea na última quinta-feira (18/07), a empresa esclarece que vem atuando em esquema 24×7 com técnicos de várias áreas; 80 geradores para atender clientes em campo, incluindo três grupos de geradores dedicados ao Galeão; e mais duas usinas de geradores com 100 grupos do equipamento nas duas subestações. Além disso, a Light também instalou três circuitos de média tensão novos que atendem 40% dos clientes. Na última sexta (19/07), um novo cabo foi comprado para reparar a linha antiga, enquanto a nova está em fase de construção, para estabilizar o sistema”.

DeCasaeJardim

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